Acabo de assistir a produção francesa “O sopro do coração”, escrito e dirigido por Louis Malle, o filme ficou conhecido mundialmente por conter cenas fortes de incesto entre mãe e filho, todavia a trama não se prende somente a este fato, já que também aborda outras questões presentes nos ritos de passagem da adolescência para a fase adulta.
A história se passa no ano de 1954 durante a ocupação francesa da Argélia. Enquanto isso o jovem Laurent Chevalier vive uma vida normal de jovem burguês, filho de Charles Chevalier, um rico ginecologista francês e de Clara uma bela italiana exilada na França, sendo ele o mais jovem dos três filhos do casal.
O rapaz passa os dias ouvindo jazz , lendo obras literárias consagradas de nomes como Albert Camus e Michel Prost, fazendo travessuras ao lado de seus irmãos mais velhos e exercendo a função de coroinha na igreja local. Pouco a pouco o jovem intelectual vai descobrindo o amor e o sexo, percorrendo toda as frustrações e descobertas desta fase normal a qualquer jovem de 14 anos. Porém, nem tudo é convencional na vida de Laurent, já que sua ligação afetiva com Clara por vezes passando dos limites do amor que envolve a relação entre mãe e filho.
Toda esta relação é mostrada de forma sutil e sensível pelo diretor, tratando os dois personagens como seres humanos comuns, não como animais de zoológico em um filme da Discovery Channel. Tanto que as cenas que deixam evidentes a atração entre mãe e filho são mostradas de forma sensível, passando longe da vulgaridade.
Dificilmente o filme teria o mesmo resultado se não fosse dirigido por Louis Malle, poucos conseguiriam tratar o assunto sem cair no sensacionalismo. Resultado este obtido por conta de uma ótima direção de atores, principalmente no que diz respeito a atuação de Benoît Ferreux, na época com 16 anos de idade, mas com segurança de ator experiente. Já Lea Massari não fica atrás. Uma atriz mediana poderia transformar Clara em uma pervertida, diferentemente da atriz italiana, que demonstra grande sensibilidade para não cair em uma atuação caricata, dando grande profundidade ao personagem. A forma como ela se expressa e interage com seu jovem filho tem fortes indícios de uma relação normal de mãe e filho, nunca de um casal de namorados, fazendo com que a trama não perca sua veracidade.
O filme foi tratado como um afronto à sociedade quando foi lançado, mas o tempo fez com que “O sopro do coração” envelhecesse bem, não é de se surpreender que o cineasta é admirado por outros diretores consagrados. Talvez o fator que mais contribui para o prestígio do filme seja a forma como a produção subverte regras consensuais cinematográficas sem parecer forçado. Exemplos como o nu frontal do menino, a insinuação sexual do padre para com o mesmo e principalmente a cena que precede o ato incestuoso são construídas com grande naturalidade.
Provavelmente um dos filmes mais arriscados que um diretor já se propôs a realizar, “O sopro do Coração” se mantém surpreendente do início ao fim. Recomendadíssimo .
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